Retocolite Ulcerativa e Doença de Crohn: as perguntas mais frequentes dos pacientes
A retocolite ulcerativa e a doença de Crohn fazem parte de um grupo chamado doenças inflamatórias intestinais. As doenças inflamatórias intestinais são condições que causam inflamação no intestino, levando a sintomas como dor abdominal, perda de peso, diarreia e fezes com sangue.

Qual o médico que cuida da Retocolite Ulcerativa e da Doença de Crohn?
O médico especialista em colite ulcerativa e o médico especialista em doença de Crohn é o gastroenterologista, embora o paciente possa precisar de uma equipe multidisciplinar, podendo ser acompanhado também por coloproctologista, nutricionista e nutrólogo, por exemplo.
A Dra Ana Luiza Guedes, com mais de 10 anos de experiência, é uma profissional altamente qualificada, tendo feito residência médica e doutorado na Universidade de São Paulo (USP), além de possuir título de especialista em gastroenterologia pela Federação Brasileira de Gastroenterologia (FBG).
Além disso, Dra Ana Luiza Guedes é professora concursada da Universidade do Estado da Bahia, além de médica concursada da Universidade Federal da Bahia.

A doença inflamatória intestinal é contagiosa?
A doença inflamatória intestinal (Retocolite Ulcerativa e Doença de Crohn) não é contagiosa e portanto não se pode pegar e nem passar para outras pessoas.
Embora não se saiba exatamente a causa, sabe-se que o indivíduo já nasce com a predisposição genética para a doença e, a depender de fatores ambientais, como estilo de vida, acaba manifestando a doença.
Retocolite Ulcerativa e Doença de Crohn são doenças autoimunes, ou seja, o sistema imunológico, que deveria estar lutando contra bactérias, vírus, protozoários e outros microorganismos, reage contra células do próprio indivíduo.
No caso da Colite Ulcerativa e Doença de Crohn, essa reação ocorre principalmente contra células do trato digestivo, embora possa haver acometimento de outras partes do corpo (como pele, olho e articulações).
Quais são os sintomas da doença de Crohn e retocolite ulcerativa?
A doença de Crohn e a retocolite ulcerativa podem apresentar sintomas semelhantes, tais como:
- Diarreia persistente
- Cólicas abdominais
- Sangramento retal
- Perda de peso
- Fadiga
Além disso, podem ocorrer outros sintomas como febre e anemia. Alguns pacientes podem também apresentar as manifestações extraintestinais da doença.
Quais são as manifestações extraintestinais da doença de Crohn e retocolite ulcerativa?
As manifestações extraintestinais das doenças inflamatórias envolvem:
- Manifestações Dermatológicas:
- Eritema Nodoso: Nódulos dolorosos sob a pele.
- Pioderma Gangrenoso: Úlceras profundas na pele.
- Manifestações Articulares:
- Artrite: Inflamação das articulações.
- Espondiloartrite: Inflamação da coluna vertebral e das articulações sacroilíacas.
- Manifestações Oculares:
- Uveíte: Inflamação da úvea, parte do olho.
- Episclerite
- Manifestações Hepáticas:
- Colangite Esclerosante Primária: Inflamação dos ductos biliares.
- Manifestações Renais:
- Nefrolitíase: Formação de pedras nos rins.
- Manifestações Pulmonares:
- Doença Pulmonar Intersticial: Inflamação dos tecidos pulmonares.
- Manifestações Vasculares:
- Tromboembolismo: Formação de coágulos sanguíneos.
- Manifestações Neurológicas:
- Neuropatia Periférica: Danos nos nervos periféricos.
- Manifestações Cardíacas:
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- Pericardite: Inflamação do pericárdio, a membrana que envolve o coração.
Como é feito o diagnóstico de retocolite ulcerativa e doença de Crohn?

O diagnóstico da Retocolite Ulcerativa e da Doença de Crohn envolve uma combinação entre a avaliação clínica e exames complementares. Geralmente o médico deve seguir os seguintes passos:
1. Histórico Médico e Exame Físico:
- O médico inicia com uma avaliação detalhada dos sintomas, histórico médico e exame físico.
- O paciente com retocolite ulcerativa ou doença de Crohn geralmente se queixa de dor abdominal, diarreia e perda de peso.
2. Exames de Sangue:
- São pedidos exames marcadores inflamatórios, como a proteína C reativa (PCR). Quando elevados, esses marcadores indicam inflamação no corpo.
- Também deve ser pedido hemograma para avaliar possível anemia, e exames que avaliam a parte nutricional, como ferro, albumina e vitaminas.
3. Exames de Fezes:
- Podem ser solicitados para detectar inflamação intestinal ou para descartar outras condições gastrointestinais.
- Atualmente, um exame bastante útil para avaliar inflamação intestinal é a calprotectina fecal.
4. Colonoscopia com Biópsia:
- Este é o principal exame para investigar doenças inflamatórias intestinais.
- Ele permite ao médico visualizar diretamente o interior do intestino grosso e a última parte do fino (delgado), além de coletar pequenas amostras de tecido (biópsias) para análise laboratorial. É fundamental para o diagnóstico definitivo.
5. Endoscopia Alta (para a Doença de Crohn):
- Em alguns casos, pode ser necessário examinar a parte superior do trato digestivo, incluindo o esôfago e o estômago, para determinar a extensão da doença em pacientes com Doença de Crohn.
6. Exames de Imagem:
- Ressonância magnética (RM), tomografia computadorizada (TC) e ultrassonografia abdominal podem ser realizados para avaliar a extensão da doença e detectar complicações.
7. Cápsula Endoscópica (para a Doença de Crohn):
- Uma cápsula contendo uma câmera é ingerida e fornece imagens detalhadas do trato digestivo, especialmente do intestino delgado.
8. Outros Exames Específicos:
- Dependendo dos sintomas e do quadro clínico, outros exames como estudos de imagem do trato biliar ou do fígado podem ser realizados.
Qual a diferença entre a Retocolite ulcerativa e a Doença de Crohn?
Embora a Retocolite ulcerativa e a Doença de Crohn sejam doenças inflamatórias autoimunes do intestino, há algumas diferenças.
Retocolite ulcerativa:
- Pega apenas o intestino grosso e o reto
- Pega apenas a mucosa (a camada mais interna da parede intestinal)
- As lesões são superficiais
- As lesões intestinais da mucosa são contínuas
Doença de Crohn:
- Pode pegar qualquer área do trato digestivo, “da boca ao ânus”, passando pelo esôfago e estômago, embora na maioria dos casos ocorra no intestino delgado (“fino”).
- Pega todas as camadas da parede intestinal
- As lesões são mais profundas
- As lesões são descontínuas, podendo saltar de um lugar para o outro, com áreas normais entre elas
- Pode levar a estenoses (estreitamentos no intestino), perfurações e fístulas.
As fístulas são quando uma área inflamada do intestino “gruda” em outra área de intestino (ou em outras regiões, como no ânus, a pele, na bexiga ou na vagina) e acaba criando uma passagem inadequada de fezes ou de secreção.
O que são fístulas intestinais?
As fístulas intestinais são quando uma área inflamada do intestino “gruda” em outra área de intestino ou não (por exemplo, no ânus, na pele, na bexiga ou na vagina) e acaba criando uma passagem inadequada de fezes ou de secreção.
Às vezes essa passagem não abre completamente e ocorre retenção de secreção, com posterior infecção e formação de abscessos (bolsas de pus).
As fístulas podem levar ao mau funcionamento do intestino, levando a malabsorção dos nutrientes e desnutrição, além de dor.
Como é o tratamento da retocolite ulcerativa e doença de Crohn?
O tratamento para a Doença de Crohn e a Retocolite Ulcerativa deve ser personalizado e pode envolver diversas abordagens. Os principais métodos terapêuticos envolvem:
- Medicamentos Anti-inflamatórios:
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- Incluem corticosteroides e anti-inflamatórios específicos para o trato digestivo, que visam controlar a inflamação e reduzir os sintomas.
- Os corticosteroides têm muitos efeitos colaterais e devem ser usados com cautela, pelo mínimo tempo possível e com acompanhamento médico,
- Imunomoduladores e Biológicos:
- Medicamentos como os imunossupressores e as terapias biológicas são utilizados para modular a resposta imunológica e prevenir recaídas.
- Os imunobiológicos atualmente envolvem os anti-TNF, os inibidores de interleucina-12 e 23 e os anti-integrinas.
- Cirurgia:
- Em casos graves ou quando complicações não podem ser controladas com medicamentos, a cirurgia pode ser necessária para remover áreas afetadas do intestino.
- Nutrição Específica:
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- Dietas formuladas ou suplementos nutricionais podem ser utilizados para promover a cicatrização e fornecer nutrientes essenciais, especialmente em crianças ou em casos de má absorção.
- Monitoramento e Acompanhamento Médico Regular:
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- É fundamental manter consultas de acompanhamento para avaliar a eficácia do tratamento, monitorar os sintomas e fazer ajustes, se necessário.
- Estilo de Vida e Bem-estar:
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- Adotar um estilo de vida saudável, incluindo uma dieta equilibrada, exercícios regulares e redução do estresse, pode complementar o tratamento médico.
- Tratamento de Manifestações Extraintestinais:
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- Se presentes, as manifestações extraintestinais também devem ser tratadas, muitas vezes em colaboração com especialistas em outras áreas da medicina.
É importante ressaltar que o tratamento deve ser individualizado e orientado por um gastroenterologista, considerando a gravidade, extensão e características específicas da condição de cada paciente.
A Retocolite ulcerativa e a Doença de Crohn têm cura?

Infelizmente ainda não descobrimos a cura para a Retocolite ulcerativa e a Doença de Crohn, mas a doença pode ser controlada através de medicações e o paciente pode levar uma vida praticamente normal.
Retocolite ulcerativa e a Doença de Crohn são caracterizadas por períodos de remissão e exacerbação, de forma que, mesmo que o paciente esteja assintomático e com exames normais, deverá manter o acompanhamento médico.
Quem tem Colite ulcerativa e Doença de Crohn precisa acompanhar com médico por toda a vida?
A Retocolite ulcerativa e a Doença de Crohn são caracterizadas por períodos de remissão e exacerbação, de forma que, mesmo que o paciente esteja assintomático e com exames normais, deverá manter o acompanhamento médico sempre.
No início do diagnóstico, este acompanhamento precisa ser mais frequente. Quando a doença se estabiliza, é possível espaçar as consultas médicas.
Se você tem colite ulcerativa ou doença de Crohn, precisa manter acompanhamento com seu médico gastroenterologista.
A Dra Ana Luiza Guedes está à disposição para ajudar pacientes a enfrentar esse desafio e recuperar a qualidade de vida.
Quem tem Colite ulcerativa e Doença de Crohn precisa tomar remédios para a vida toda?
Os tratamentos atuais da Colite ulcerativa e Doença de Crohn e o fato de não haver uma cura exigem que a maioria dos pacientes mantenha o uso de remédios indefinidamente.
Em alguns casos muito específicos, de doenças leves sem atividade de doença, o médico pode tentar retirar a medicação por um período, havendo um risco de recidiva, que deve ser conversado com o paciente.
Os pacientes com retocolite ulcerativa submetidos a colectomia total (retirada de todo o intestino) podem evoluir sem necessidade de tratamento com remédios.
Quem tem Colite ulcerativa e Doença de Crohn precisa ficar fazendo colonoscopias a vida toda?
A colonoscopia é um exame muito importante para o seguimento da maioria dos pacientes com Colite ulcerativa e Doença de Crohn.
Embora alguns exames venham se mostrando também úteis no seguimento dos pacientes (como a calprotectina fecal), a depender do paciente, o médico precisará de uma colonoscopia para avaliar melhor como está a atividade da doença.
A quantidade de colonoscopias necessárias deve ser avaliada individualmente.
Quem tem Colite ulcerativa e Doença de Crohn vai precisar usar uma bolsa de colostomia ou ileostomia?
A maioria dos pacientes com Colite ulcerativa e Doença de Crohn não precisam usar a bolsa de colostomia ou ileostomia, embora alguns pacientes precisem.
Os pacientes precisam usar a “bolsinha” após uma cirurgia em que é retirada uma parte do intestino delgado, do intestino grosso ou da totalidade do intestino grosso.
Grande parte das vezes, o uso da bolsa é temporário, até o cirurgião poder reconstruir o trânsito intestinal, ou seja, ligar as partes que sobraram do intestino.
Em algumas vezes, esta cirurgia não é possível e o paciente precisa usar uma bolsa definitivamente.
Se você necessitar de uma estomia, é importante conversar sobre suas emoções com o médico e entrar em contato com outros pacientes que já passaram por isso, para entender como lidaram com a situação. A maioria dos pacientes estomizados vive uma vida praticamente normal.
Quais são os alimentos proibidos para Colite ulcerativa ou Doença de Crohn?
A não ser em casos específicos, como quando o intestino está quase fechando ou obstruído ou em pacientes que retiraram uma parte importante do intestino, os pacientes com Colite ulcerativa ou Doença de Crohn não precisam fazer uma dieta específica.
Entretanto, alguns alimentos sabidamente causam mais gases, distensão abdominal, dor na barriga e diarreia, devendo ser evitados quando a doença está em atividade:
- Leite e derivados com lactose
- Leguimosas, como feijão, lentilha e grão de bico
- Batata doce, brócolis, repolho
- Açúcar em excesso ou frutas muito doces
- Adoçantes
- Alimentos muito condimentados, com muito alho, cebola, cominho
- Pimenta
O ideal é evitar os alimentos que você individualmente nota que não tolera bem, principalmente se estiver com a doença em atividade e ter um acompanhamento médico e de nutricionista adequados.
Se tiver dificuldade de perceber isto, faça um diário alimentar, anotando o que comeu e se teve algum sintoma. Não restrinja muito a sua alimentação e opte por uma dieta balanceada, rica em frutas e vegetais. Evite alimentos industrializados.
Quem tem Colite ulcerativa ou Doença de Crohn pode fazer exercícios físicos?
Pacientes com Colite ulcerativa e Doença de Crohn se beneficiam da realização de atividade física, embora devam conversar com o médico sobre o tipo de atividade que desejam fazer.
Se você estiver bem da sua doença, o seu médico não só irá te liberar como irá te encorajar a realizar exercícios.
Mulheres que têm Colite ulcerativa ou Doença de Crohn podem engravidar?
A mulher com Colite ulcerativa ou Doença de Crohn pode engravidar, mas é importante sempre informar este desejo ao médico, para planejarem o melhor momento.
O momento ideal é quando a doença está em remissão (sem atividade). Quando a doença está em atividade, há maior risco de parto prematuro e do bebê nascer com baixo peso.
A maioria das medicações podem ser mantidas durante a gestação, mas o médico avaliará individualmente caso a caso.
A paciente gestante com Colite ulcerativa ou Doença de Crohn deverá ser seguida mais de perto pelo gastroenterologista e pelo obstetra e há o risco de a atividade da doença piorar durante a gravidez.
Após o nascimento, o pediatra do bebê deverá estar ciente das medicações que a mãe usou na gravidez ou está usando durante a amamentação. Isto pode interferir, por exemplo, nas vacinas que o bebê pode tomar.
Pacientes que estejam usando metotrexate não podem engravidar.
Quem tem Colite ulcerativa ou Doença de Crohn passa para os filhos?
Os filhos de pais que têm Colite ulcerativa ou Doença de Crohn estão sob maior risco de ter a doença, mas este risco não é muito grande quando apenas o pai ou a mãe são portadores.
Menos de 10% dos pacientes que têm um dos pais acometidos terão Colite ulcerativa ou Doença de Crohn. Este risco sobe para cerca de um terço dos pacientes quando ambos os pais são portadores de doença inflamatória intestinal.
Quem tem Colite ulcerativa ou Doença de Crohn tem risco de câncer?
Os pacientes com Colite ulcerativa ou Doença de Crohn têm um risco de câncer aumentado em relação à população geral, o que não significa que terão câncer.
Quanto mais tempo o intestino grosso passa inflamado, maior o risco de alguma célula cancerígena aparecer. Por isso, a prevenção deve ser feita inicialmente tratando a inflamação, ou seja, com o próprio tratamento da doença.
Quanto maior o tempo passado do diagnóstico (geralmente após 8 a 10 anos), maior o risco, de forma que o paciente deve ser submetido a colonoscopias frequentes para detecção e retirada de pequenas lesões que podem virar câncer caso permaneçam no intestino.
Além disso, pacientes que possuem colangite esclerosante primária (uma doença do fígado às vezes associada à DII), têm maior risco tanto de câncer de intestino (devendo realizar colonoscopias anuais) quanto das vias biliares (tubos onde passa a bile) e devem ser seguidos de perto.
Quem tem Colite ulcerativa ou Doença de Crohn pode tomar vacina da febre amarela?
A vacina da febre amarela é uma vacina de vírus vivo atenuado. Por isso, se você estiver tomando algum imunossupressor (como a azatioprina) ou imunobiológicos não deve tomar. Antes de tomar alguma vacina converse com seu médico.
Conclusão
A doença de Crohn e a retocolite ulcerativa são condições relativamente raras, mas que afetam a vida de milhares de pacientes, interferindo de forma importante na qualidade de vida.
Com diagnóstico e tratamento adequados, é possível gerenciar os sintomas e evitar complicações mais graves, que envolvem necessidade de cirurgias e até câncer.
A Dra. Ana Luiza Guedes está à disposição para ajudar pacientes a enfrentar esse desafio e recuperar a qualidade de vida.
